..

16/09 - Paraolimpíadas - DIA 10

Hoje o dia começou as nove, que bom acordar sem compromisso, tomei um café bem reforçado, juntei com meus amigos Mauro, Carlão, Daniel e André e fomos conhecer a verdadeira Pequim. Aqui na Paraolimpíada a estrutura é de primeira, um mundo se fecha para o bem estar das pessoas envolvidas nos jogos, como segurança, transporte, alimentação, entretenimento, comodidade entre outras coisas, tudo que tem de melhor, um mundo em redomas. Queríamos conhecer o outro lado e os aspectos culturais e históricos que a China tem a nos oferecer. Saímos por um dos portões da vila e pegamos um táxi em direção a Praça da Paz Celestial, pelo caminho pude reparar um trânsito meio caótico, onde bicicletas normais, motorizadas, motos, triciclos, carros e pedestres brigam na disputa pelo mesmo espaço, um querendo passar na frente do outro. Pessoas que não acabam mais, brotam por todo o canto, muitos idosos, pais com filhos únicos, guardas por todos os cantos. Chegando lá, fomos andando em direção ao monumento a Mao Tse Tung, tudo muito bonito com uma arquitetura que só tinha acompanhado através de filmes e pela TV.
Nossa principal atração hoje era conhecer a cidade proibida. Passamos pela entrada, mostramos a credencial e adentramos essa cidade que me surpreendeu por tamanha beleza, energia, riqueza de detalhes, simplicidade; com muitas construções que deram vida a muitos impérios. Tirei muitas fotos e filmei bastante, você começa a andar, num sobe e desse de escadas passando por várias seções de espaços divididos por várias construções como templos e palácios. Jardins maravilhosos, de muito bom gosto, aliás, se tem algo que os chineses sabem, é lidar com plantas e flores. Uma sabedoria que percebe-se na essência do povo, no modo de lidar com as pessoas e o mundo. No começo parece que não vai chegar nunca ao fim da cidade, vê se ao fundo, um templo em cima de uma montanha, que fiquei surpreso ao saber que não é natural e sim construída, onde o objetivo é alcançar o seu topo para contemplar o templo que tem um Buda enorme dourado assim como a cidade proibida ao fundo, vista de cima. Antes de chegar a esse templo passamos por um lugar onde se vende e se toma chá, fizemos o ritual do chá. Tomamos diferentes tipos de ervas, com suas especificidades e sabores. Eu que não gosto muito de chá, adorei. Muito pelo ritual como pelo sabor e essência que essa bebida contem. Depois de uma tarde toda conhecendo essa maravilha, pegamos outro taxi que nos levou ao mercado da seda. Um prédio, com uns sete andares onde vende-se de tudo, roupas, eletroeletrônicos, artesanato, jóias bijuterias, quinquilharias, quase tudo que você possa imaginar. Tudo se pechincha, a maiorias das coisas que se vendem são falsa, principalmente os eletrônicos, muitas vezes você não sabe o que é verdadeiro ou o que é falso. Os vendedores são muito insistentes, querendo te vender a qualquer custa, chegam até a te segurar ou a não deixar você sair da loja insistindo na compra. Carlão foi perguntar o preço de uma camisa que começou com o preço de 250, foi negociando até chegar ao preço de 100. Ele desistiu de fazer a compra mas a mulher não largava o seu braço, querendo fazê-lo comprar, ele puxava com força, mas ela continuava agarrada a ele, tentando convencê-lo a levar, falando em chinês de forma muito rápida. Dei muita risada com a situação, foi cômico. Todos os vendedores quando percebem que você é brasileiro falam: - amigo, amigo, vem. A negociação normalmente baixa o preço aos quarenta por cento na maioria das vezes. Ficamos lá três horas, mais quarenta minutos até achar um táxi para voltarmos a vila. Chegamos, jantamos e vim para internet escrever esse dia maravilhoso que tive hoje. Vou para o salão de jogos jogar sinuca com os amigos, depois vou para o quarto dormir, para amanhã conhecermos a muralha da China pela manhã e a tarde irmos para a cerimônia de encerramento das Paraolimpíadas. Até breve.

15/09 - Paraolimpíadas - dia 9

Vou começar me desculpando por passar um dia sem escrever, ontem, dia 15, o dia começou muito cedo e acabou muito tarde. Acordei as seis horas da manhã, depois de uma noite em que acordei a toda hora, estava ansioso pelo dia de competição que me esperava, tomava-me um sentimento de confiança com pensamentos positivos, mas não vou mentir que uma pulga atrás da orelha circulava minha cabeça, muito por não conseguir executar o planejado na primeira prova que disputei, os 100m livre. Sabia o que tinha que fazer, os objetivos e as metas a serem atingidas no dia porém passavam muitas variáveis por minha cabeça, mas o bom é que os pensamentos positivos predominaram. Fui caminhando para o café da manhã, o dia estava lindo, o sol nascia de forma magnífica, com cores vibrantes, pareço estar enfeitando demais, mas estava realmente fabuloso, coisa de filme. Tomei um iogurte com cereais, comi um pão com queijo e bebi um café bem forte. Peguei o primeiro o ônibus para o Cubo sendo o primeiro atleta a chegar a piscina principal. Alonguei bastante e aqueci antes de cair na água. Me senti super bem, a ansiedade aumentava a cada hora que chegava mais perto da prova, a responsabilidade e a cobrança de um bom resultado não saia de meus pensamentos. Oito e quinze acabei o aquecimento, avistei minha mãe, tia e irmão na arquibancada, imaginei também todos os familiares, pais, filha, esposa, amigos, que estão na frente da TV torcendo por mim. Coloquei a roupa que nado, o fast skin, falei pela ultima vez com meu técnico antes dos 400m indo direto para a sala de espera onde aguardamos a hora de entrar para competir. Os 400m livre foi a primeira prova da eliminatória. Coloquei o óculos e a toca, já estava preparado para entrar na piscina, nadei na primeira série. Entrei bem concentrado, fiquei em frente a baliza sete, só pensava no que deveria fazer naqueles próximos minutos. As suas marcas, e então saltei para o desafio, o óculos continuou como sempre deveria ter ficado, intacto, uma normalidade para mim, não fosse a infelicidade do último dia nove, quando errei em algum ponto, entrando água em meu óculos. Fiz a prova me sentindo bem, sempre pensando em fazer força, sem deixar a mente e o corpo desconcentrar. Nadar assim, requer atenção, procuro não deixar nenhum pensamento negativo ou de dor passar por minha cabeça. Converso comigo mesmo durante a prova; falando:

-Quero um bom tempo, me superar, vamos lá, você ta bem, vai., vamos lá Collet, são os últimos cem metros...

Bati em terceiro na minha série, olhei para o placar e vi, 4minutos 23 segundos, fiquei feliz com o tempo, abaixei quatro segundos de minha última marca. Sai da piscina e fiquei ao canto assistindo a segunda série nadar, aguardava o resultado dessa para saber se me classificaria para a final. Acabada a segunda série, saiu o resultado dos oito finalistas, classifiquei com o quinto tempo, nem pude acreditar, quatro anos depois e eu estava novamente em uma final paraolímpica nos 400m livre, entre os oito melhores do mundo. Abracei meu técnico, ficamos emocionados, só ele realmente sabe o percurso todo em que passamos até chegar até ali. Minha categoria evolui muito nesses últimos anos e o nível técnico esta cada vez mais alto, surgiram muitos atletas novos, recordistas mundiais e por ai vai, só nós dois sabemos quanto está sendo difícil me manter entre os melhores do mundo e atingir uma meta nos torna mais unidos e forte para vencer novos desafios.
Soltei na piscina de aquecimento e fiz alguns educativos de borboleta para nadar o revezamento que foi a penúltima prova do dia. E lá estava eu novamente, na sala de espera aguardando junto com André, Phelipe e Daniel a hora de entrar para nadar o revezamento 4 x 100m medley. Entramos na piscina para nadar a primeira série, fomos para a raia 3, Daniel abriu o revezamento com o costas, André caiu em seguida no peito, aguardava em cima do bloco a hora dele tocar a placa para nadar o borboleta. Cai forte, passei bem os primeiro cinqüenta, na volta dei uma segurada já pensando na final dos 400m livre. Bati a placa, caindo Phelipe para fechar o reveza com o craw. Aguardamos o resultado da segunda série, ufa, classificamos com o oitavo tempo, um segundo a mais que o nono colocado, a Alemanha. Fui soltar novamente, falei com minha mãe e voltei para a vila, almocei e fui para o quarto descansar. Acordei as três horas, arrumei a mochila, peguei o ônibus e fui ao Cubo para a grande final.

Alonguei, aqueci, e esperei a hora de nadar os 400m, estava mais tranqüilo que de manhã, falei com meu técnico Murilo, que passou uma estratégia em cima dos erros e acertos da prova nadada pela manhã e desejou-me boa sorte, fui para a sala de espera. As cinco e trinta e oito estávamos enfileirados para entrar na piscina, já estava todo preparado, levava comigo a foto 3x4 de Iara que minha esposa mandou para mim. Entramos e me dirigi a raia 2, mostrei para a câmera que fica na frente de todos os nadadores durante a apresentação dos atletas, a foto de minha filha querida, ela me inspira todos os dias. Concentrei olhando fixo para a água, mentalizando tudo que tinha que fazer ali naquele momento. Deu a largada e cai forte, pensando em fazer um tempo melhor. A prova foi bem forte, nadei dando meu máximo, me senti um pouco mais cansado que pela manhã. Fechei os 400m na mesma casa de segundo que fiz de manhã porém alguns centésimos mais rápido. Fiquei feliz, não totalmente satisfeito, acabei a prova em sexto lugar. Tirei um peso enorme de minhas costas ao final da prova, quanta pressão. Me cobro muito com relação ao meu desempenho mas sai com a sensação de dever cumprido. Abracei meu técnico e fui soltar para nadar a final do reveza, minha última prova da competição.


Entramos na sala de espera, os quatro estavam muito felizes de estar acabando a competição, foram nove dias de competição, muitas medalhas, muito trabalho e consequentemente muito cansaço. Nosso reveza não era um dos favoritos, mas estávamos dispostos a dar o máximo para conseguir o melhor resultado. Entramos e fomos até a raia oito, Daniel abriu o reveza com o nado costas, dando seguimento com André no peito e eu caindo no borboleta, nadei dando meu máximo, bati na placa para Phelipe fechar com o craw. Ficamos em oitavo, nosso tempo superou a antiga marca feita no Parapanamericano no Rio de Janeiro em 2007. O barulho no Cubo era de assustar, a China ficou em primeiro fazendo o parque aquático tremer. Despedi de minha mãe, irmão e de minha querida tia Lúcia, troquei uma camisa com a Inglaterra e voltei para a vila. Fui direto para o refeitório, comi bastante no Mc Donalds, tomei coca cola com os amigos e voltamos para o quarto. Tomei um banho, já eram onze horas, coloquei uma roupa e fomos para uma boate, onde todos atletas da natação se confraternizaram em uma linda festa. Dancei bastante e dei boas risadas com os amigos. Voltamos para a vila, desmoronando de vez na cama.

Essa é a minha torcida. A fiel do Collet no Brasil!!!!
Meu pai, meus grandes amigos e minha esposa. Energia que ultrapassa fronteiras!

E Iarinha marcando presença, a sua maneira!

PRÓXIMAS PROVAS:

400m Livres e Revezamento 4x100m Medley.
Hoje, 14/09 a partir das 21h (Brasil)
na Sportv, TV Brasil ou Band!!


14/09 - Paraolimpíadas - Dia 8

Acordei as seis e meia, tomei café da manhã e fui para o último dia de treino antes de minha prova, hoje é dia de treinar pela manhã e não fazer mais nada além do necessário. Fui ao Cubo, alonguei e fiz um treino bem leve, com uma série de ritmo e algumas saídas do bloco. Fiquei assistindo as eliminatórias e vi Fabiana nos 50m livre S 11, Adriano nos 400m livre S6, André e Phelipe nos 50m livre S 10 se classificarem para as finais. Voltei para a vila e fui para fisioterapia fazer uma massagem, passei na internet para falar com minha esposa, almoçando em seguida. Voltei ao quarto onde cochilei. Não paro de pensar nos 400m livre, até nos sonhos ele me aparece. As cinco fui até uma sala de TV ver as finais da natação, Fabiana começou o dia com um bronze nos 50m livre S11 ( categoria para deficientes visuais) e para fechar com chave de ouro, ou melhor, medalha de ouro, fizemos dobradinha nos 50m livre S 10, André ficando em primeiro lugar com recorde mundial e Phelipe em segundo levando a prata. No total, 15 medalhas para a natação até o dia de hoje. Fui para o refeitório onde jantei bem leve. Agora, sete e meia da noite, estou escrevendo o dia de hoje, sem muitas novidades; estou guardando para amanhã. Vou dormir cedo hoje, quero acordar bem disposto, nadarei a primeira prova do dia na primeira série. É tudo ou tudo, vou rachar de tanto fazer força. Estarei pensando em todos que me ajudaram a chegar aqui. Bom, deixa eu ir se não eu não paro de escrever. Que venha os 400m. Até amanhã.