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15/09 - Paraolimpíadas - dia 9

Vou começar me desculpando por passar um dia sem escrever, ontem, dia 15, o dia começou muito cedo e acabou muito tarde. Acordei as seis horas da manhã, depois de uma noite em que acordei a toda hora, estava ansioso pelo dia de competição que me esperava, tomava-me um sentimento de confiança com pensamentos positivos, mas não vou mentir que uma pulga atrás da orelha circulava minha cabeça, muito por não conseguir executar o planejado na primeira prova que disputei, os 100m livre. Sabia o que tinha que fazer, os objetivos e as metas a serem atingidas no dia porém passavam muitas variáveis por minha cabeça, mas o bom é que os pensamentos positivos predominaram. Fui caminhando para o café da manhã, o dia estava lindo, o sol nascia de forma magnífica, com cores vibrantes, pareço estar enfeitando demais, mas estava realmente fabuloso, coisa de filme. Tomei um iogurte com cereais, comi um pão com queijo e bebi um café bem forte. Peguei o primeiro o ônibus para o Cubo sendo o primeiro atleta a chegar a piscina principal. Alonguei bastante e aqueci antes de cair na água. Me senti super bem, a ansiedade aumentava a cada hora que chegava mais perto da prova, a responsabilidade e a cobrança de um bom resultado não saia de meus pensamentos. Oito e quinze acabei o aquecimento, avistei minha mãe, tia e irmão na arquibancada, imaginei também todos os familiares, pais, filha, esposa, amigos, que estão na frente da TV torcendo por mim. Coloquei a roupa que nado, o fast skin, falei pela ultima vez com meu técnico antes dos 400m indo direto para a sala de espera onde aguardamos a hora de entrar para competir. Os 400m livre foi a primeira prova da eliminatória. Coloquei o óculos e a toca, já estava preparado para entrar na piscina, nadei na primeira série. Entrei bem concentrado, fiquei em frente a baliza sete, só pensava no que deveria fazer naqueles próximos minutos. As suas marcas, e então saltei para o desafio, o óculos continuou como sempre deveria ter ficado, intacto, uma normalidade para mim, não fosse a infelicidade do último dia nove, quando errei em algum ponto, entrando água em meu óculos. Fiz a prova me sentindo bem, sempre pensando em fazer força, sem deixar a mente e o corpo desconcentrar. Nadar assim, requer atenção, procuro não deixar nenhum pensamento negativo ou de dor passar por minha cabeça. Converso comigo mesmo durante a prova; falando:

-Quero um bom tempo, me superar, vamos lá, você ta bem, vai., vamos lá Collet, são os últimos cem metros...

Bati em terceiro na minha série, olhei para o placar e vi, 4minutos 23 segundos, fiquei feliz com o tempo, abaixei quatro segundos de minha última marca. Sai da piscina e fiquei ao canto assistindo a segunda série nadar, aguardava o resultado dessa para saber se me classificaria para a final. Acabada a segunda série, saiu o resultado dos oito finalistas, classifiquei com o quinto tempo, nem pude acreditar, quatro anos depois e eu estava novamente em uma final paraolímpica nos 400m livre, entre os oito melhores do mundo. Abracei meu técnico, ficamos emocionados, só ele realmente sabe o percurso todo em que passamos até chegar até ali. Minha categoria evolui muito nesses últimos anos e o nível técnico esta cada vez mais alto, surgiram muitos atletas novos, recordistas mundiais e por ai vai, só nós dois sabemos quanto está sendo difícil me manter entre os melhores do mundo e atingir uma meta nos torna mais unidos e forte para vencer novos desafios.
Soltei na piscina de aquecimento e fiz alguns educativos de borboleta para nadar o revezamento que foi a penúltima prova do dia. E lá estava eu novamente, na sala de espera aguardando junto com André, Phelipe e Daniel a hora de entrar para nadar o revezamento 4 x 100m medley. Entramos na piscina para nadar a primeira série, fomos para a raia 3, Daniel abriu o revezamento com o costas, André caiu em seguida no peito, aguardava em cima do bloco a hora dele tocar a placa para nadar o borboleta. Cai forte, passei bem os primeiro cinqüenta, na volta dei uma segurada já pensando na final dos 400m livre. Bati a placa, caindo Phelipe para fechar o reveza com o craw. Aguardamos o resultado da segunda série, ufa, classificamos com o oitavo tempo, um segundo a mais que o nono colocado, a Alemanha. Fui soltar novamente, falei com minha mãe e voltei para a vila, almocei e fui para o quarto descansar. Acordei as três horas, arrumei a mochila, peguei o ônibus e fui ao Cubo para a grande final.

Alonguei, aqueci, e esperei a hora de nadar os 400m, estava mais tranqüilo que de manhã, falei com meu técnico Murilo, que passou uma estratégia em cima dos erros e acertos da prova nadada pela manhã e desejou-me boa sorte, fui para a sala de espera. As cinco e trinta e oito estávamos enfileirados para entrar na piscina, já estava todo preparado, levava comigo a foto 3x4 de Iara que minha esposa mandou para mim. Entramos e me dirigi a raia 2, mostrei para a câmera que fica na frente de todos os nadadores durante a apresentação dos atletas, a foto de minha filha querida, ela me inspira todos os dias. Concentrei olhando fixo para a água, mentalizando tudo que tinha que fazer ali naquele momento. Deu a largada e cai forte, pensando em fazer um tempo melhor. A prova foi bem forte, nadei dando meu máximo, me senti um pouco mais cansado que pela manhã. Fechei os 400m na mesma casa de segundo que fiz de manhã porém alguns centésimos mais rápido. Fiquei feliz, não totalmente satisfeito, acabei a prova em sexto lugar. Tirei um peso enorme de minhas costas ao final da prova, quanta pressão. Me cobro muito com relação ao meu desempenho mas sai com a sensação de dever cumprido. Abracei meu técnico e fui soltar para nadar a final do reveza, minha última prova da competição.


Entramos na sala de espera, os quatro estavam muito felizes de estar acabando a competição, foram nove dias de competição, muitas medalhas, muito trabalho e consequentemente muito cansaço. Nosso reveza não era um dos favoritos, mas estávamos dispostos a dar o máximo para conseguir o melhor resultado. Entramos e fomos até a raia oito, Daniel abriu o reveza com o nado costas, dando seguimento com André no peito e eu caindo no borboleta, nadei dando meu máximo, bati na placa para Phelipe fechar com o craw. Ficamos em oitavo, nosso tempo superou a antiga marca feita no Parapanamericano no Rio de Janeiro em 2007. O barulho no Cubo era de assustar, a China ficou em primeiro fazendo o parque aquático tremer. Despedi de minha mãe, irmão e de minha querida tia Lúcia, troquei uma camisa com a Inglaterra e voltei para a vila. Fui direto para o refeitório, comi bastante no Mc Donalds, tomei coca cola com os amigos e voltamos para o quarto. Tomei um banho, já eram onze horas, coloquei uma roupa e fomos para uma boate, onde todos atletas da natação se confraternizaram em uma linda festa. Dancei bastante e dei boas risadas com os amigos. Voltamos para a vila, desmoronando de vez na cama.

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