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O sonho olímpico

Tudo começou no dia 21 quando eu, Marcelo Collet, embarquei no aeroporto de São Paulo para China, primeiro destino Macau. Na bagagem, quatro anos de preparação visando única e exclusivamente essa competição, que é o ápice para qualquer nadador para-esportivo: as Paraolimpíadas de Pequim. Treinos e mais treinos, abdicações, dedicação para serem executados em apenas alguns segundos. O melhor que você pode dar, chegar ao limite mental e físico, para que consequentemente, se tudo der certo, você sair com a certeza de dever comprido, e saber que deu o melhor de si. E não necessariamente com a medalha no peito, mas com a certeza de ter representado bem o meu país, assim como, meu estado.

Primeira parada, Canadá, onde fizemos conexão, depois de doze horas de vôo. Até ai eu estava acostumado, pois através do Faz Atleta e a Dismel venho realizando viagens para Europa e América do Norte para participar de competições classificatórias para Pequim. Mas o que vinha pela frente, eu não esperava. Mais 17 horas de viagem rumo a Macau. Nossa, fiquei com o traseiro quadrado. Normalmente não consigo dormir em avião, andando de um lado para o outro, hora sentando e observando um casal de idosos chineses ao meu lado. Me inspira a simplicidade como os chineses mais tradicionais levam a vida. Chegamos a Hong Kong, com um fuso de 11 horas a mais do que no Brasil. Não senti muito no começo, pois a novidade e a ansiedade de conhecer o que fica do lado inverso de onde vim, me deixava ligado. No próprio aeroporto de Hong Kong pegamos um trem rápido que nos levou até o ferry boat. Viajamos por mais uma hora até Macau, onde estamos fazendo uma fase de aclimatação e adaptação ao fuso.

O clima aqui é igual ao de Salvador, quente e úmido. Nos dois primeiros dias sofri muito com o fuso, acordando muito no meio da noite, e me sentindo mal durante os treinos. Durante o dia sentia moleza no corpo e dor de cabeça. Estamos treinando no Centro Olímpico de Macau, que diga-se de passagem é uma piscina fantástica. Conosco estão também a delegação da Inglaterra, nosso grande rival no revezamento.

Do dia que cheguei em Macau (22/08) até ontem (27/08), minha rotina foi somente, hotel-piscina-hotel-piscina-hotel, treinando duas vezes ao dia, e reservando o tempo restante ao descanso, outra parte fundamental do treino. Durante esses dias, apareceram coisas estranhas para comer no restaurante, mas vamos lá, fazer, o que? Alguns reclamaram o que fez com que a chefia de missão do Comitê Parolímpico falasse com o chefe de cozinha para deixar a comida o mais semelhante ao que comemos no Brasil.

Não veio nenhum escorpião ou inseto tostado, mas se viesse eu comeria, mas desconfiei de algumas carnes. Será que tinha carne de cachorro no meio? Quem souber morre, como diria meu treinador, Murilo Barreto. Hoje 28/08, acordei às sete e meia. Às oito e meia da noite aí no Brasil, tomei café, e fui treinar onde a cada dia que passa a quantidade de treino vai diminuindo, isso se chama período de polimento, onde vamos ficando cada vez mais afiados para o grande dia. Dia-a-dia o treino vai diminuindo.

Voltamos ao hotel, almocei e diferentemente de todos os dias, não fui treinar à tarde. Ganhei folga, ufa, e fomos passear pelo centro de Macau. Que contraste, muitos cassinos imponentes, muitas lojas ao lado de prédios antigos, altos, socados de gente, muitas motos nas ruas, o trânsito todo ao contrario, que nem na Inglaterra com carros com volantes do lado direito. Pequenos templos budistas no meio de praças, pontes muito bonitas, e um povo muito simpático, que fala de um modo muito rápido. Algumas pessoas aqui em Macau falam o português de Portugal, pois já foi uma colônia portuguesa. Já encontrei três que falavam. Outra coisa que me chamou muita a atenção foi os andaimes daqui, que são feitos todos de bambu. Eu vi um altíssimo que fazia reparo em um Cassino gigantesco. Vejo sempre também, porta incensos bem elaborados nas portas de estabelecimentos. Tomei até um susto quando vi na vitrine de um restaurante, os pratos principais em alguns aquários, neles vi tartarugas, peixes exóticos e peixes cobras. Pensei até que era uma pet shop. Fiquei com pena das tartarugas.

Pegamos um ônibus no inicio da noite e voltamos ao hotel onde jantei e vim aqui para o quarto escrever tudo que me aconteceu até hoje. Amanhã tem mais, onde relatarei essa incrível jornada que estou vivendo. Um sonho se concretizando.

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