Hoje, à meia-noite, começa a volta de 12h no Paranoá

 Publicada hoje, no Correio Brasiliense


Considerada uma das provas mais difíceis e cobiçadas por nadadores de todo o mundo, a travessia do Canal da Mancha tornou-se meta para dois brasileiros: o professor de natação Tiago Sato, de Brasília, e o atleta paraolímpico Marcelo Collet, um paulista radicado na Bahia. A mesma paixão pelo esporte e o objetivo em comum uniram os dois, que vão fazer um treino inédito nas águas do Lago Paranoá. Para testarem seus limites antes de encarar o desafio, eles nadarão 40km superando o frio e a escuridão em 12 horas de treino, que atravessará a madrugada de hoje para amanhã, acompanhados pelo Corpo de Bombeiros.

“Escolhemos esse horário (meia-noite de hoje ao meio-dia de amanhã) para ganharmos mais confiança. O nosso maior adversário lá será o frio, já que a temperatura da água varia entre 14°C e 18ºC. Cada atleta tem sete dias para completar a travessia. A convocação é feita pela organização, que pode chamar o nadador a qualquer hora do dia. Temos que estar preparados para nadar tanto sob sol quanto à noite”, revela Tiago, 28 anos, que terá de 15 a 21 de agosto para fazer o percurso.

Treinando diariamente seis horas, divididas em dois turnos, Collet, 29 anos, que será o primeiro atleta paraolímpico a fazer a travessia, se reveza entre a preparação para competições na piscina, pela Seleção Brasileira paraolímpica de natação, e as águas abertas. Para ele, a aventura em Brasília é novidade e será seu segundo treinamento de longa distância. “A primeira foi no fim do ano passado, em Salvador. Nadei 32km e me senti bem. Além de me preparar para a travessia do Canal da Mancha (entre 13 e 20 de setembro), tenho treinado também para o Mundial de Natação Paraolímpica, que será em agosto, na Holanda. Uma das minhas provas lá será uma maratona aquática com 5km”, conta.

Além dos treinos, os dois têm se empenhado em aumentar o percentual de gordura corporal para resistir ao frio que encontrarão nas águas geladas do Mar do Norte. Tiago quer aumentar de 11% para 15%, e Collet, de 15% para 18%. “Tenho feito um trabalho com um nutricionista para conseguir ganhar mais gordura. A travessia não pode ser feita com roupa térmica, só de sunga, e contaremos apenas com a ajuda de uma mistura de vaselina e gordura animal”, explica Sato. “Depois de Brasília, seguirei para o Rio de Janeiro. Lá está bastante frio e aproveitarei para dar sequência ao meu treinamento”, afirma Collet.

Para conseguir cumprir seu objetivo, o brasiliense precisou vender seu carro, fez garrafinhas de água personalizadas para comercializar e tem batalhado para conciliar a rotina de aulas, treino e descanso — indispensável para evitar lesões. “Tudo deve sair por R$ 31 mil. Quando eu era criança, na década de 1980, vi uma mulher que tinha atravessado o Canal da Mancha. Fiquei com isso na cabeça. Tenho treinado bastante e me esforçado para ir. Vou com a confiança de que conseguirei completar a travessia, mas sei que será muito difícil”, desabafa.

Separação
O Canal da Mancha é um corredor que une o Mar do Norte ao Oceano Atlântico e separa a ilha da Grã-Bretanha do norte da França. Tem cerca de 563km de comprimento.

Saiba mais

Feito inédito
O primeiro homem a fazer a travessia do Canal da Mancha foi o comandante e marinheiro Matthew Webb, em agosto de 1875. Ele conseguiu nadar os 34km em 21 horas e 45 minutos, o que foi considerado um feito inédito. Só em 7 de setembro de 1911, Thomas William Burgess conseguiu repetir a proeza. Desde então, o desafio tornou-se uma das metas de nadadores profissionais e amadores
do mundo inteiro.

Regras no trajeto

Os nadadores têm direito a receber alimentos durante a travessia, mas não podem tocar no barco ou nas mãos de quem os derem. Os únicos equipamentos permitidos são, além da roupa de banho, touca, óculos, vedadores nasais, borrachas para os ouvidos, óleos e um bastão luminoso à noite. Oficialmente, menos de 10% das tentativas de atravessar o canal a nado têm sucesso e apenas a metade dos nadadores que fez a travessia recebeu o certificado oficial, dado pelo Channel Swimming Association, que fiscaliza todas as travessias do canal.